“NÃO HÁ RELIGIÃO SUPERIOR À VERDADE”
Helena Petrovna Blavatsky
“PARA OS POUCOS”
Essa é a dedicatória de sua maior obra, A Doutrina Secreta.
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Certamente ela anteviu o quão seria incompreendida, como todos os gênios o são. (Zel Suek)
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Texto adaptado de Murilo Nunes de Azevedo
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Nascida na Rússia na noite das feiticeiras, Blavatsky sempre foi acompanhada de perto pelo sobrenatural. Dotada de incríveis poderes sensoriais, fundou a Sociedade Teosófica, enfrentou os preconceitos e a ignorância, foi perseguida. A sabedoria oriental deve a ela a sua redescoberta e reavaliação. Blavatsky influenciou Gandhi e Nehru, previu a bomba atômica, mostrou o poder oculto do som e forneceu os dados para a descoberta da biblioteca secreta de Tun Huang.
Qual é o bem de se aconselhar um tolo? Este é um velho dito russo que Blavatsky gostava de citar. Poderá alguém se tornar mais sábio graças a conselhos? Um tolo é o que é. Uma massa de condicionamentos, de preconceitos, de idéias feitas a respeito das coisas. Respira, pensa, transpira, age, em função desse fundo que realmente é o seu senhor.
A tolice é uma realidade. Vamos encontrá-la entronizada sob os mais diversos mantos da respeitabilidade. E nada é pior do que os pretensos sábios, falando de suas cátedras, invocando um poder que não possuem. A humanidade, como um todo, é tola. Um rebanho que vai sendo tocado pelos mais diversos pastores. Há entretanto os que se rebelam contra esse estado de coisas e agem como uma força natural para despertar os tolos. E pagam, sempre, por isso.
Helena Petrovna Blavatsky é uma das mais extraordinárias personagens da nossa época. Mas que não é reconhecida, nem citada, pois quem faz a História são os pretensos sábios contra os quais ela tanto se bateu. A sua atuação no século XIX foi a de uma verdadeira guerrilheira do espírito. Do maquis, do anarquista que enviava bombas dentro de um buquê de rosas. Uma dessas, e que faz efeitos até agora, é o livro A Doutrina Secreta.
Uma vida fora de série
Nascida, segundo a velha tradição russa, na noite das feiticeiras, na noite de 12 de agosto, na cidade de Ekatiroslav, no ano de 1831, teve a acompanhá-la, desde o nascimento, a presença do sobrenatural. Em seu batizado, acidentalmente a túnica do sacerdote foi incendiada, ferindo e assustando alguns que estavam presentes na cerimônia. Anos mais tarde, Helena brigou com um colega e ameaçou enviar-lhe um diabo que lhe faria cócegas até a morte. O garoto aterrorizado correu, escorregou e caiu num rio morrendo afogado.
H. P. B. oferece uma sucessão de impressões. Esfinge. Oráculo. Magia. Todas essas insinuações eram reforçadas pelo seu corpanzil, as suas manias bruscas, o modo espalhafatoso de vestir e as manifestações paranormais que a acompanhavam sempre. E, principalmente, por seus olhos esbugalhados, profundos e que atraem quem os contempla. A atração do abismo, ou da Luz.
Após a morte de sua mãe, foi enviada para a companhia de seu avó, o governador de Saratov, que vivia num castelo que diziam ser encantado. Aos cinco anos era capaz de hipnotizar; e aos quinze utilizava-se da clarividência.
Começaram, então, a falar dela. Uma série de circunstâncias levou a isso. Entrou no mundo quando grassava uma terrível epidemia de cólera. A sua hipersensibilidade e o temperamento estranho atraíam sobre si a curiosidade popular. Como criança, adorava ficar só nos escuros subterrâneos do palácio de seu avô. Lá, iam encontrá-la muitas vezes, encondida numa masmorra, perdida em seus pensamentos. Irrequieta, sonhadora, adorava cavalgar, em pêlo, em fogosos cavalos pelas estepes. Recebeu uma educação tradicional. Sabia tocar piano com mestria, a ponto de, anos depois, em Londres, ter realizado vários concertos. Chegando ao Egito, depois de ter abandonado o seu velho marido, o general Niceford Blavatsky, com quem viveu três meses virtualmente prisioneira, a sua vida é um torvelinho.
Devemos lembrar que, na época, os transportes eram demorados e precários. A falta de informações um fato. Acompanhar os itinerários das viagens de Blavatsky é uma aventura que poucos poderão executar na nossa época.Vamos encontrá-la nas mais recônditas regiões. No Líbano, recebendo instruções dos druzos. Na índia, nas montanhas da fronteira norte, tentando penetrar no Tibete. Nos Estados Unidos e Canadá, convivendo com os peles vermelhas, aprendendo as suas artes, ou com os feiticeiros vodus de Nova Orleans. Podemos deparar com ela sacolejando nas caravanas, cruzando o continente americano em busca do Pacífico. Na América Central e do Sul. Ou viajando de navio para o Japão em 1856. Ali entrou em contato com a mais esotérica das seitas: os iamabuchis, que moram nas montanhas próximas a Quioto.
Em 1857 está no Kashimir, Ladak na fronteira do Tibete, na Birmânia e Java. Retorna à Europa. Viaja para o Cáucaso. Volta à Itália. Passa pelos Balcãs.Em 1867 é ferida na batalha de Mentana, no dia 2 de novembro, lutando ao lado de Garibaldi. Recupera-se em Florença. De 1868 a 1870 permanece no Tibete, num mosteiro da região de Chigtze, em companhia de seu mestre.
Afunda numa explosão do navio Eumonia, no Mediterrâneo, entre as ilhas de Doxos e Hidra. Recebe assistência do governo grego que a remete, a pedido, para Alexandria. Depois é uma sucessão de locais: Cairo, Síria, Palestina, Rússia, Romênia, 1874, nos Estados Unidos em Vermont.
Funda, em Nova York, a Sociedade Teosófica, em 1875. Escreve sem parar. Nasce Isis Sem Véu, em 1876. Em 1878 naturaliza-se norte-americana. Parte para a índia em companhia do seu grande colaborador coronel Henry Steel Olcott. Bombaim — 1879, cruza a índia. Ceilão —1880, onde se torna budista. De 1881 a 1885 vive na índia uma vida de superatividade em todos os campos.
Em 1888, já muito doente, escreve como uma desesperada A Doutrina Secreta. Era a sua obra-prima. Uma síntese do pensamento humano. Uma teoria unificada do espírito humano. Como conseqüência, sofre todos os ataques. É considerada uma charlatã, uma vigarista. A Sociedade de Pesquisas Psíquicas, de Londres, envia um médico, o dr. Hogson, para a índia, a fim de pesquisar os estranhos acontecimentos que ali se passavam. As conclusões apressadas e tendenciosas denunciam Blavatsky de forjar as cartas dos seus mestres, de utilizar gabinetes falsos para as suas materializações etc. O casal Coulomb, que se prestou a isso, tinha sido auxiliado por Blavatsky quando se encontrava passando necessidades no Cairo. Invejosos com a notoriedade de H. P. B. e instigados pelas missões religiosas e pelo Governo inglês, que via com maus olhos a crescente valorização da teosofia na Índia, armaram todo o esquema.
O fato é revelado com detalhes, entre outros, anos depois, pelo livro de Jacques Lantier, publicado em 1970, intitulado La Theosophie ou 1′Invasion de Ia Spiritualité Orientale. Helena Petrovna Blavatsky, verdadeira mártir do século XIX, falece no dia 8 de maio de 1891, na cidade de Londres. As sementes da renovação do século 20 estavam lançadas.
O mundo em que viveu
O final do século 19, onde transcorre a vida de Blavatsky, caracteriza-se pelo aparecimento da ciência moderna. O materialismo era evidente nos mais diversos campos. Foi o período áureo da Inglaterra, da rainha Vitória, das missões religiosas cristãs para converter os infiéis. Do nascimento das estradas de ferro, e grandes fábricas inglesas, começando a poluir a paisagem. Do trabalho escravo das mulheres e crianças. Da iluminação a gás. Do cancã e da valsa. Os espartilhos, os grandes decotes, as sobrecasacas e as barbas fartas. A moral era a vitoriana. Escolhiam-se as palavras para que não houvesse o perigo de falsas identificações com o corpo humano. Foi a grande era da depravação. Dos grandes interesses comerciais.
O deus todo-poderoso era o dinheiro. Em seu nome procurava-se modificar os hábitos e tradições dos povos submetidos ao colonialismo. Tudo aquilo que era a favor da manutenção de um estado de dependência, de conformismo, era apoiado. Tudo que podia fazer despertar a consciência dos valores culturais próprios dos países dominados, era perseguido.
Convém lembrar — para ficar bem caracterizado o clima em que Blavatsky viveu —que as guerras do ópio, nas quais a Inglaterra tentava manter a sua supremacia na China, graças ao enfraquecimento da moral de um povo, tinham ocorrido há pouco tempo. É esse um dos inúmeros episódios trágicos que caracterizam a negra história dos chamados povos civilizados. K. M. Panikar na obra clássica A Dominação Ocidental na Ásia descreve toda a brutalidade da perseguição aos “heréticos” na Índia. Muito antes da Inquisição (1560), já os tribunais eclesiásticos condenavam os heréticos para roubá-los de suas propriedades. A ponto de Camões se revoltar, dizendo: “Vós que o título de mensageiros de Deus usurpais acreditais deste modo imitar São Tomás?”
Uma prova da total iniqüidade e, ao mesmo tempo, do pouco valor das tradições ocidentais em povos que possuíam a essência da sabedoria em suas veias, está no fracasso total da evangelização em massa feita nos últimos quatrocentos anos. Blavatsky denuncia esse fato em vários trechos da sua obra. É a grande revolta contra a supressão do sublime direito de cada um ser ele mesmo. Ela se opunha, “com a forma mais forte possível, a tudo que se aproximasse da fé dogmática e do fanatismo”. Logicamente teve contra si a resistência dos doutores da ciência. Em qualquer dos ramos da ciência exata, foi levada a sério.
Escarnecer e rejeitar a priori — tal era a atitude que prevaleceu no século XIX. H. P. B. dizia: “Somente neste, porque no século 20, os eruditos principiarão a reconhecer que a Doutrina Secreta não foi nem inventada nem exagerada, mas, pelo contrário, simplesmente delineada; e, por fim, que os seus ensinamentos são anteriores aos Vedas. Não vai nisso pretendermos o dom da profecia: é uma simples e despresumida afirmação, baseada no conhecimento de fatos. De cem em cem anos surge uma tentativa de mostrar ao mundo que o ocultismo não é uma vã superstição. Uma vez que se possa, de algum modo, entreabrir a porta, ela ir se-á abrindo cada vez mais em séculos sucessivos”.
Graças ao estudo aprofundado dos textos das mais diferentes épocas e tradições, podemos encontrar aquilo que nos une por trás da aparência das formas. Aquela filosofia perene de que nos falava Leibnitz que, uma vez revelada, joga uma luz mais plena nas nossas religiões, dando-lhes uma perspectiva cósmica. Um ponto de encontro que, em vez de isolá-las, as fortalece.
Blavatsky anotava em Doutrina Secreta: “É possível que as mentes da atual geração não estejam maduras para a recepção de verdades ocultas … Chegou a hora de verificarmos se as paredes da moderna Jericó são tão inexpugnáveis que nenhum ocultista tocador de trompa possa fazê-las ruir”.
O ocultista não admite que nada, desde o grão de pó mais minúsculo até uma supergaláxia, seja inorgânico, sem vida. O átomo é a própria vida. Toda essa hierarquia de poderes — que vai desde o contido no todo até o mais relativo — está dirigida por consciências. Essas consciências são para o homem de ciência apenas leis. Há entretanto entre elas uma coordenação.
A ciência oculta estabelece que da vida una, primordial, informe e incriada, procede o universo. Primeiro do caos primordial, profundo, frio, homogêneo, nasce a luz, o fogo. Dele, tudo procede em escalas decrescentes de materialização. Seguem-se, nessa descida do sutil ao denso, os estágios do ar, água, terra. Evidentemente, o éter, fogo, ar, água e terra não são os elementos a que normalmente nos referimos quando usamos essas palavras. Sakti é o poder latente no uno sem segundo. Contido no coração do um, Sakti é o desejo que leva à limitação, à multiplicação.
É o poder feminino por excelência. Um aforismo cabalista diz: “uma pedra torna-se uma planta, um animal, um homem e um espírito. O espírito torna-se Deus”. É o ciclo fechado que procede da centelha primordial, do filho pródigo que busca a casa do pai por caminhos distintos, sem ter, entretanto, nunca se afastado dela. Como dizia Hermes Trimegistos no Egito: “Nada na terra é real. Há somente aparências.
O homem é transitório e, portanto, não é real, pois é sujeito à vida e à morte. Só a realidade primordial o é. Aquilo que não tem cor nem forma, que não muda. A matéria é, portanto, uma sombra do espírito. Apesar de tudo, há o relativo, o contingente, o ilusório. O imutável se transforma no transitório pela força do poder (Sakti). Essa força fundamental, que é a causa da manifestação, se apresenta sob sete aspectos: 1) Parasakti — o poder supremo. 2) O Jnana Sakti — o poder do intelecto, a sabedoria real. 3) Itchasakti — o poder da vontade. 4) Kriyasakti — o poder do pensamento. 5) Kundalinisakti — o princípio .da vida universal, que inclui em si a atração e a repulsão. 6) Mantrika Sakti — o poder do som, da música, da palavra. Há um sétimo aspecto, a Sakti suprema, que engloba todos os seis.
Vemos que do um nasce o dois. Para que o um se divida é necessária a presença no seu seio de um desejo, de uma força, de Sakti como causa dessa divisão. Temos aí a presença do três, constituída pelos dois aspectos (positivo-negativo, macho-fêmea) e a relação existente entre eles, constituindo o 3.° termo. Os três, combinados dois a dois, produzem o seis, (os triângulos entrelaçados simbolizando o espírito impregnado na matéria). O círculo — a esfera.
A pesquisa desses Saktis leva o homem a dimensões maiores do poder. Esses poderes estão em nós como em todas as coisas. Podem ser revelados, intensificados, graças a práticas determinadas. A ioga, a velha ciência da auto-realização, é um dos inúmeros caminhos que a ciência antiga, revelada por H. P. B., oferece aos homens.
Em seu sentido exato a ioga é profundamente associada à alquimia. Ela é a arte alquímica, por excelência, que permite preparar o vaso (o corpo), onde será feita a transmutação da matéria bruta (o chumbo) em ouro. Nesse vaso nascerá Kumara, a criança eterna, que nunca envelhece. Esses poderes são analisados, com detalhes, ao longo da Doutrina Secreta. Aqui e ali encontramos chaves, relances, que nos darão uma compreensão maior da vida e seus mistérios. São abismos abertos diante do pesquisador sério, daquele que sabe ler além das palavras e ver a essência do real.
O cuidado da autora em deixar as coisas aparentemente fora do lugar é afastar do acesso à fonte do poder os que, não estando preparados, pudessem dela fazer mau uso. É essa a razão por que os textos antigos, que tratam desse assunto, vêm revestidos pelo manto espesso do simbolismo, deformando a sua compreensão superficial.
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COMÉDIA DE COSTUMES. - Bolsonaro acha melhor o filho Eduardo ficar no Brasil como líder do psl, e escolhe outro nome para a embaixada em Whashington. Claro, o capitão de bobo não...Há 5 anos
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maravilhoso texto.
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