Na mitologia grega as Harpias (do grego hárpyia, que significa arrebatadora) são descritas como divindades de função variável. Anteriores aos deuses olímpicos, eram filhas de Taumante, ou Thaumas - divindade marinha da geração dos Titãs, filho de Pontos, a planície infecunda, e Gaia, ou Terra, mãe dos deuses - e de Electra - ninfa marinha nascida da união de Oceano uma das mais antigas divindades gregas, com Tetis, divindade marítima e mãe de Aquiles, herói famoso que morreu durante a guerra de Tróia -, e são geralmente representadas ora como mulheres sedutoras, ora como horríveis monstros com rosto de mulher, corpo de abutre e unhas em garra, traduzindo dessa forma não só as paixões dominantes, obsessivas, mas também o remorso que surge depois que o desejo foi satisfeito.
Alguns autores explicam que no princípio elas eram duas, Aelo, cujo nome em grego significa “a borrasca”; e Ocipete, a “rápida no voo”, às quais depois se juntou Celeno, “a obscura”, também chamada de Poderge, ou Podargéia. Para o poeta grego Hesíodo, que viveu provavelmente no século 8 a.C., elas personificavam os ventos, aparecendo também como encarnação da própria morte. Segundo Márcio Pugliesi, autor do livro “Mitologia Greco-Romana – Arquétipos dos Deus e Heróis”, as Harpias eram “monstros hediondos que aterrorizavam o mundo”. Eram três: “Celeno, a Obscuridade, Elo, a Tempestade, e Ocite, ou Ocipete, a Rápida, no voo e na carreira”. Na descrição do autor, “Esses monstros, com face de mulher, corpo de abutre, bicos e unhas aduncas, e mamas pendentes, causavam fome em toda a parte por onde passavam, arrebatavam a comida das mesas e espalhavam um cheiro tão pestilento que ninguém conseguia se aproximar do que deixavam. Era inútil afugentá-las: voltavam sempre. Júpiter e Juno serviam-se delas contra aqueles que queriam punir. As Harpias viviam nas ilhas Estrofadas, no mar Jônio, costa do Peloponeso. Suas figuras são utilizadas como símbolos do vício. Uma harpia sobre a mesa farta representa a gula; sobre sacos de dinheiro, avareza, etc.”.
Para o poeta grego Homero, o fundador da poesia épica nascido em local desconhecido presumidamente entre os séculos 11 e 7 a.C.,apesar de sete cidades gregas reivindicarem tal honra, a harpia Celeno, ou Podargéia, uniu-se a Zéfiro para dar origem aos cavalos de Aquiles, que voam no ar com os ventos; já para os poetas alexandrinos (que polvilhavam sua poesia com explicações técnicas e científicas, com alusões sábias e observações eruditas que exigiam do leitor conhecimentos aprofundados para a sua compreensão) e também para os latinos, elas eram colocadas entre os gênios infernais, confundindo-se frequentemente com as Fúrias dos romanos, ou Erínias dos gregos, três divindades maléficas (as irmãs Alecto, Megera e Tisifone) que presidiam a todos os crimes. Mas as Harpias aparecem com maior destaque, sobretudo, nas lendas relacionadas com Fineu, rei da Trácia que se tornou cego por vontade de Zeus (Júpiter).
O mito principal dessas divindades confunde-se com a história de Fineu, sobre quem pesava a seguinte maldição: toda a comida que fosse colocada à sua frente seria carregada pelas Harpias, que inutilizavam com seus excrementos aquilo que não pudessem levar com elas. Segundo a versão mais conhecida, Fineu era o rei da Trácia, região histórica do sudeste da Europa, banhada, a leste, pelo mar Negro e pelo estreito do Bósforo; ao sudeste, pelo mar de Mármara; e ao sul, pelo estreito do Dardanelos e pelo mar Egeu.
O soberano também era adivinho, mas por ter abusado das faculdades proféticas que possuía, acabou deixando Zeus (Júpiter) aborrecido, e por isso foi castigado com a perda da visão, passando a ser perseguido pelas Harpias. Estas cuidavam de lhe roubar a comida, ignorando os servos que tentavam afugentá-las, e quando o infeliz soberano já estava prestes a morrer de fome, os Argonautas chegaram ao seu reino e as venceram, deixando-as vivas diante da sua promessa de que não mais atormentariam o soberano, e de que se recolheriam a uma caverna na ilha de Creta.
Diz a lenda que depois disso Fineu forneceu aos tripulantes do Argos, que buscavam o Velocino de Ouro, instruções sobre o curso que deveriam seguir: a entrada do Porto Euxino estava impedida por duas pequenas ilhas rochosas que flutuavam na superfície do mar, mas juntavam-se quando sacudidas pelos ventos, esmagando qualquer objeto que estivesse entre elas. Por isso eram chamadas de Simplegades, ou ilhas da Colisão. Frineu instruiu os argonautas sobre o modo de atravessar aquele estreito perigoso, e quando eles chegaram às ilhas, soltaram uma pomba que passou são e salva entre os rochedos, perdendo só algumas penas da cauda.
Os marinheiros aproveitaram-se, então, do momento favorável em que as ilhas se afastavam uma da outra, remaram com vigor e passaram a salvo enquanto elas se chocavam de novo, atingindo levemente a popa do barco.
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