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domingo, 11 de março de 2012

A PROSTITUTA SAGRADA




Nancy Corbett
A prostituta sagrada era uma mulher humana que encarnava a deusa do amor. Representava a sexualidade da mulher sendo reverenciada; havia vínculo entre a espiritualidade e a sexualidade pois, surgiu dentro do sistema religioso matriarcal. Portanto, a Prostituta Sagrada é paixão, espiritualidade e prazer.
Caso o princípio patriarcal não seja contrabalançado pelo princípio feminino, tem-se uma vida, em certa medida, estéril.

As deusas do amor e da paixão, algumas, também, da fertilidade são: Inana (Sumária), Istar (Babilônia), Isis ou Hátor e Bastet (Egito), Astarte (Fenícia), Afrodite (Grécia) e Vênus (Roma). A deusa do amor e a prostituta sagrada são dimensões do princípio de Eros. A deusa e a prostituta sagrada são arquétipos e, por isso, não podem ser integradas totalmente; apenas aspectos parciais chegam à consciência.




A prostituta profana, ao contrário da sagrada, tinha uma vida difícil e era representante do lado negativo da sexualidade feminina.

A prostituição sagrada era um ritual do matrimônio sagrado, onde feminino e masculino se uniam sem qualquer preponderância, era a união da espiritualidade e da sexualidade. Já a prostituição profana declarava a separação absoluta da sexualidade e da espiritualidade.

Com a preponderância do dinamismo patriarcal sobre o matriarcal foi retirado o aspecto sagrado do feminino, ele foi rechaçado, associado ao demoníaco, ao pecado. Assim, a deusa deixou de ser venerada. A Igreja Católica separou o corpo da espiritualidade e tudo o que dizia respeito ao corpóreo estava passível de ser associado ao pecado e afastamento da religiosidade/espiritualidade.

A rejeição do que representava a prostituta sagrada traz insatisfação e neuroses tanto para as mulheres que dissociaram a sacralidade de seu corpo da alma, como para os homens que encontrarão intensas dificuldades no relacionamento com a sua anima como com as mulheres em geral.




A mulher que se permite reconhecer e conhecer a deusa interior (parte feminina do Self) valoriza-se, cultua-se, embeleza-se, mas não para satisfazer seu próprio ego ou de outros, mas sim por valorizar e reverenciar o feminino em si. Isso a leva a não supervalorizar a aprovação ou desaprovação dos outros; sabe o que quer, o que é bom para si mesma.

O feminino é, comumente, representado pela Lua. A mulher e a lua possuem fases, de um crescente de energia até seu total resplendor declinando até seu recolhimento e obscuridade.

Praticamente, todas as deusas que representam o amor e a paixão possuíam um filho-amante, que devia ser sacrificado. Com isso, toda mulher deve sacrificar, abandonar esse aspecto do maternal, seja de viver única e exclusivamente para satisfazer os desejos de seu filho como de viver as realizações dele como se fossem suas. Mas um parceiro, um marido pode representar esse filho-amante. Se a mulher não faz tal sacrifício de renunciar o desejo de controle e poder do ego, nenhum dos dois poderá crescer, há um vínculo simbiótico de mútua dependência. Se o homem não se libertar da mãe ou mulher possessiva, será incapaz de manter um relacionamento maduro.




Esta renúncia de algo tão precioso, carregada de emoções pranteadas é uma das tarefas mais árduas e de mais difícil integração, das faces da deusa. Para o homem, também, é algo muito doloroso pois terá que abandonar uma posição confortável infantil para tornar-se realmente um homem. Ele deve libertar-se das garras da mãe e da anima para poder, finalmente, encarar o feminino e a deusa sem medo; para render-se ao seu poder transformativo.

É através da imagem arquetípica da prostituta sagrada que a mulher consegue compreender os atributos da deusa do amor. E cabe aqui lembrar que o arquétipo da Prostituta Sagrada, também, é uma parte da Anima do homem.

Um dos exemplos mitológicos sobre uma mulher mortal encarnando os atributos da deusa é Ariadne (Teseu e o Minotauro) que é um mito correlato a libertação da mulher de sua identificação com o papel de filha do pai.

“A prostituta sagrada é a mulher humana que através de ritual formal ou de desenvolvimento psicológico, conseguiu conscientemente conhecer o lado espiritual do seu erotismo, e vive-o na prática, de acordo com suas circunstâncias individuais.” (p.95).


O ARQUÉTIPO DO ESTRANHO


Nos cultos a deusa do amor, um emissário dos deuses ou mesmo um deus disfarçado, vinha para se relacionar com a prostituta sagrada, consagrando, assim, o ritual. Analogamente, nos processos psicológicos, o “estranho” revela um aspecto inconsciente que se faz consciente e promove a mudança. Denomina-se de estranho, também, por causar uma sensação de algo estranho ou diferente ocorrendo. É o princípio masculino, um aspecto do Animus.

As mulheres que são frias emocionalmente, ou que apresentam ressentimentos profundos com relação ao homem ou que são promiscuas, são aquelas que vivenciam o Animus negativo (aspectos do Animus que denotam que ele não foi integrado, aparecendo como uma voz crítica) que as impede de vivenciar o amor. O Animus positivo, aquele que foi integrado, que penetrou o feminino, proporciona à mulher aspectos positivos em seu cotidiano. Dá-lhe segurança, confiança, abolindo a submissão, os sentimentos de inferioridade da sociedade patriarcal. Cabe lembrar que integrar o Animus não significa identificar-se com o mesmo, ou seja, a mulher não precisa atuar no mundo como um homem, nem possuir suas características. Portanto, não se trata de masculinização.

O MATRIMÔNIO SAGRADO

O ritual do matrimônio sagrado é a representação simbólica da união dos opostos, do masculino e do feminino diferenciados. Ele ocorre tanto na vida psíquica aparecendo em sonhos, como no mundo exterior através da união de duas pessoas.




O ARQUÉTIPO DA PROSTITUTA SAGRADA E O HOMEM

Como toda mulher carrega em si sua porção masculina – o Animus, o homem carrega sua porção feminina – a Anima, que é um elemento de propulsão e transformação na psique masculina. Ela, como o Animus, apresenta inúmeras facetas: a donzela, a mãe, a bruxa, a sereia, a prostituta, etc. Se o homem não integrar sua Anima acabará por se relacionar com a mulher e com o feminino de maneira equivocada e que lhe trará muitas dificuldades no relacionamento, pois impede que ele se relacione com a mulher de verdade.

O adultério e o divórcio são conseqüências da maneira como o homem lida com sua Anima não integrada. Para fugir da Anima-Mãe ele assume a Anima-Esposa. Mas após a chegada dos filhos, a esposa se transformando em mãe e se identificando mais com esse atributo passa a ser vista pelo homem como Anima-Mãe. E ele vai buscar a Anima-Mulher-Fêmea novamente. Com essas dificuldades para lidar com o feminino, o homem acaba por se afastar do mundo dos sentimentos, que pertence aos domínios do feminino.




ESTÁGIOS DA ANIMA

Jung descreveu quatro estágios do desenvolvimento da Anima que são análogos aos da Prostituta Sagrada:

- 1º estágio: EVA: no qual a anima manifesta sua energia biológica, instintual e sexual. Ela deseja o homem mas um homem.

- 2º estágio: HELENA: no qual a anima utiliza-se da sedução, com beleza e graça, ela não é mais apenas um objeto sexual.

- 3º estágio: VIRGEM MARIA: implica na transcendência do físico e do sexual, onde há uma ligação com divino.

- 4º estágio: SOFIA: a sabedoria divina.

Tanto o homem ao vivenciar estes estágios da Anima, como a mulher ao vivenciar tais estágios do Feminino, vão experimentando aspectos diferentes do princípio feminino. Com isso, o homem poderá transformar sua vida dando-lhe um sentido, criatividade e a oportunidade de relacionamentos positivos com as mulheres. E, a mulher, resgatando seus aspectos do feminino, transformará seu Animus em aliado ao seu desenvolvimento.




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Referência Bibliográfica:
Qualss-Corbett, Nancy
A Prostituta Sagrada
Editora Paulus.

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