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domingo, 11 de março de 2012

Celso Daniel: grampos envolvem o chefe de gabinete de Lula




Na última sexta-feira, o Jornal da Noite, da Bandeirantes, comandado por Roberto Cabrini, divulgou com exclusividade trechos de conversas telefônicas de dirigentes do PT e do principal suspeito e indiciado pelo assassinato, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. A extensa reportagem foi repetida ontem à noite, no Jornal da Band, de Carlos Nascimento, e continuava no ar até hoje de manhã, na BandNews. Leia o resumo da matéria e os diálogos gravados.

Do site do jornalista gaúcho Diego Casagrande (www.diegocasagrande.com.br)

“Caso Celso Daniel: surgem gravações telefônicas envolvendo chefe de gabinete de Lula
(02.07, 20h38)
Surgem novas e desconcertantes informações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), ocorrido em janeiro de 2002. Ele foi seqüestrado, torturado e morto a tiros. Na última sexta-feira, o Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes, comandado por Roberto Cabrini, divulgou com exclusividade trechos de conversas telefônicas de dirigentes do PT e do principal suspeito e indiciado pelo assassinato, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra (veja mais abaixo).
As gravações, obtidas logo após o crime com a quebra de sigilo de 180 linhas telefônicas, foram feitas por decisão da Justiça para a investigação de um outro caso, sem ligação com a morte do prefeito. No entanto, as conversas demonstram que petistas não apenas se sentiam desconfortáveis com a investigação, como falavam em “armar” algo para desviar as atenções e partir para a contra-ofensiva”, desacreditando os rumos da investigação.
Desde o início, líderes petistas defenderam a tese de que se tratava de um crime comum. A tese foi corroborada pela conclusão do inquérito da Polícia Civil de São Paulo.
No entanto, as investigações continuaram feitas pelo Ministério Público e, dois anos após, em 2004, a hipótese de crime político foi admitida oficialmente pelos promotores e procuradores do caso, que indiciaram Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, como sendo o mandante. O irmão do prefeito assassinado, João Francisco Daniel, via parte de sua tese de execução política ser confirmada. “O Gilberto Carvalho me disse numa conversa lá em casa que ele pegava o dinheiro arrecadado para o financiamento das campanhas do partido e encaminhava ao Zé Dirceu”, afirmou.
Com o novo rumo das investigações, a Procuradoria-Geral da República sugeriu o indiciamento do Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o Ministro Nélson Jobim arquivou o processo. A decisão de Jobim é criticada porque não teria sido técnica.
Segundo os promotores de São Paulo, Celso Daniel foi torturado antes de ser assassinado para que entregasse um dossiê que tinha em seu poder, dando conta de uma enorme rede de corrupção na prefeitura paulista. O detento Dernei Gsparino, preso na Penitenciária Estadual de Tremembé, escreveu duas cartas, uma destinada a autoridades públicas e a outra ao presidente Lula.

A Rede Bandeirantes obteve as cartas também com exclusividade. Ele sustenta que a morte de Celso Daniel foi encomendada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e arquitetada dentro das prisões paulistas. A emissora de tevê tentou ouvir várias vezes o preso e chegou a obter o aval da Justiça para isso. Surpreendendo a todos, a Administração Penitenciária de SP não tem permitido o acesso da imprensa.
Na carona das denúncias, dois outros detentos ouvidos pelos promotores confirmam a versão de assassinato encomendado.
Curiosamente, as fitas originais das gravações telefônicas foram destruídas a mando do juiz Rocha Mattos, preso em São Paulo por suspeita de liderar uma quadrilha de extorsões no Poder Judiciário. A Rede Bandeirantes, no entanto, obteve as gravações e as divulgou com exclusividade.
São conversas que envolvem Gilberto Carvalho, hoje chefe de gabinete do presidente Lula, Sérgio Gomes da Silva (o Sombra), indiciado pelo assassinato, Luis Eduardo Greenhalgh, deputado federal (PT) nomeado pelo partido para acompanhar a investigação, e Klinger Oliveira Souza, Secretário de Assuntos Municipais da prefeitura de Santo André.
Abaixo, alguns trechos das conversas.
Sombra conversa com Gilberto Carvalho
Gilberto: “Marcamos às 3h na casa do Zé Dirceu. Vamos ter uma conversa, conversar um pouco sobre nossa tática da semana. Porque nós vamos ter que ir para a contra-ofensiva.”
Sombra: “Eu vou falar com meus advogados amanhã. A nossa idéia é colocar esta investigação sob suspeição, arrumar um jeito de…”
Gilberto: “Acho que esse é um bom caminho…”
Greenhalgh conversa com Gilberto Carvalho
Greenhalg: “Olha, deixa eu te falar. Está chegando a hora do João Francisco ((irmão de Celso Daniel) depor. E antes do depoimento quero conversar com você para ele não destilar ressentimentos lá.”
Gilberto: “Pelo amor de Deus, isto vai ser fundamental. Tem que preparar bem isto aí, cara. Porque este cara vai… tudo bem…”
Klinger conversa com Sombra
Sombra: “Fala com o Gilberto aí. Tem que armar alguma coisa, cara…”
Klinger: “Não cara, calma, calma. Eu tô indo pra aí pra gente conversar sobre isso.”
Sombra: “Eu tô calmo! Eu quero que as coisas sejam resolvidas. Eu tô calmo!”

Em entrevista ao vivo para o Jornal da Noite, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), visivelmente surpreso e constrangido, disse que vai pedir ao presidente Lula novas investigações para o caso.”

Reportagem detalhada da revista Veja de 29 de setembro de 2003 relata os bastidores e o jogo bruto da campanha presidencial de Lula, em 2002. Vale destacar o trecho no qual a Veja conta como Lula e o PT se livraram das fitas do caso Santo André.

“A tarefa de manter os grampos na toca exigiu mais artimanha. Gilberto Carvalho, ex-secretário da prefeitura de Santo André e um dos grampeados, foi convocado para avaliar o caso. Disse que, se divulgado, o conteúdo dos telefonemas poderia gerar constrangimento, mas não escândalo. “Pode ser que existam coisas complicadas, mas são coisas de política. Não tem nada de corrupção”, garantiu. Ainda assim, não convinha a divulgação. O bunker, então, preparou a estratégia: retirar as fitas das mãos da Polícia Federal e dos promotores paulistas, identificados como excessivamente “tucanos”. Como fazer? Apelou-se ao procurador Luiz Francisco de Souza, usina de denúncias contra tucanos em Brasília. Sabendo que o grampo fora ilegalmente instalado pela polícia, Luiz Francisco acionou a controladoria de atividades policiais do Ministério Público, que intervém nos casos em que há abuso policial. Deu certo. A controladoria acionou a Justiça paulista, que, diante das evidências da ilegalidade da escuta, mandou apreender as quarenta fitas. “Tudo o que fiz foi falar com um procurador do grupo de controle que aquilo parecia armação”, explica Luiz Francisco.”

fonte: http://www.eagora.org.br/arquivo/Celso-Daniel-grampos-envolvem-o-chefe-de-gabinete-de-Lula/

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