No Rio, abandono e superlotação em hospitais públicos
Quem necessitar atendimento de emergência nos hospitais públicos do estado vai precisar ter persistência. Em Niterói, filas grandes e falta de leitos dificultam o atendimento. No Caju, unidades fechadas impedem que as pessoas recebam a devida assistência.
No Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, a falta de leitos dificulta o trabalho da emergência, que não consegue receber pacientes. Dona Maria Rodrigues de Matos, 63 anos, sofreu uma queda que resultou numa fissura no braço. Ela foi ao hospital com muitas dores na tarde da quarta-feira, e permanece à espera de um leito para que possa operar.
Seu marido, Adão Correia de Matos, 71, contou que Maria conseguiu fazer radiografia e recebeu analgésicos para eliminar as dores, mas a idosa permanece há dois dias esperando para operar. “Conseguiram encaixar ela no canto de um quarto, mas não nos deram nenhuma previsão de quando irá vagar um leito para que ela possa operar”, contou o aposentado.
A dona de casa Patrícia Silva, 20 anos, grávida de 9 meses, se sentiu mal e procurou atendimento na unidade. Patrícia foi avisada da falta de leitos e terá que procurar outra unidade caso entre em trabalho de parto. “Estou esperando para fazer ultra-sonografia mas já fui avisada que não tem quartos para me receber aqui”, comentou.
Mulher passa por debaixo de portão do Hospital São Sebastião. Abandonado, ele foi ocupado por famílias
No Caju, zona portuária, os dois hospitais que funcionavam na região estão fechados. O Hospital Estadual Anchieta, especializado em ortopedia, parou de atender em janeiro deste ano, quando entrou em processo de reforma.
O caso mais preocupante é do Hospital São Sebastião, também no Caju. Totalmente abandonado, a unidade de saúde, antes referência em infectologia, está ocupada por famílias que transformaram os leitos em suas residências.
A entrada do hospital permanece trancada, mas registramos pessoas entrando e saindo por baixo dos portões de acesso. Nas janelas do antigo prédio hospitalar, é possível ver crianças circulando pelos quartos e roupas penduradas pelo lado de fora.
Um morador do Caju, que trabalha nas proximidades do hospital, disse que o prédio passou por um processo de reformas e foi abandonado em sequencia.
“O hospital está há uns três anos fechado. Reformaram tudo e um ano depois estava parado”, informou o morador que preferiu não se identificar. “A unidade era importante pra todos aqui da região. Agora só serve para essas pessoas que invadiram o prédio” criticou.
Em relação aos hospitais do Caju, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) disse ter notificado a empresa responsável pela vigilância patrimonial do antigo prédio por não ter sido avisada da invasão, e informaram já ter entrado na Justiça com pedido de reintegração de posse do terreno. Sobre o Hospital Estadual Anchieta, a SES informou que a reforma está prevista para ser concluída ainda neste semestre.
A respeito do Hospital Estadual Azevedo Lima, a direção informa que o hospital é a única unidade da região a oferecer atendimento de emergência e essa situação tem sobrecarregado a unidade de saúde. De acordo com a direção, o hospital foi criado para atender pacientes com alta complexidade, mas hoje também atende pacientes com baixa e média complexidade, o que tornou a superlotação uma realidade diária.
Ainda segundo a direção, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Fonseca, construída pelo Governo do Estado e entregue à administração municipal, foi recentemente devolvida ao Estado pela Prefeitura de Niterói. Diante deste quadro, o Hospital Estadual Azevedo Lima é hoje o único a receber pacientes do SAMU e GSE, do Corpo de Bombeiros.
A Secretaria de Estado de Saúde também informou que o Hospital Estadual Azevedo Lima, será contemplado na Parceria Público-Privada (PPP) que vai investir cerca de R$ 900 milhões em nove unidades de saúde no Rio de Janeiro. O projeto para a unidade consiste num perfil redefinido para hospital geral e de trauma, que vai ampliar a oferta e reorganizar o fluxo de atendimentos de urgências e emergências clínicas, cirúrgicas e obstétricas, além de atendimento ao trauma.
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