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sábado, 19 de janeiro de 2013

A DESTRUIDORA DE MITOS

“NÃO HÁ RELIGIÃO SUPERIOR À VERDADE”
 Helena Petrovna Blavatsky




“PARA OS POUCOS”
 Essa é a dedicatória de sua maior obra, A Doutrina Secreta.
 . Certamente ela anteviu o quão seria incompreendida, como todos os gênios o são. (Zel Suek) .

Texto adaptado de Murilo Nunes de Azevedo . Nascida na Rússia na noite das feiticeiras, Blavatsky sempre foi acompanhada de perto pelo sobrenatural. Dotada de incríveis poderes sensoriais, fundou a Sociedade Teosófica, enfrentou os preconceitos e a ignorância, foi perseguida. A sabedoria oriental deve a ela a sua redescoberta e reavaliação. Blavatsky influenciou Gandhi e Nehru, previu a bomba atômica, mostrou o poder oculto do som e forneceu os dados para a descoberta da biblioteca secreta de Tun Huang. Qual é o bem de se aconselhar um tolo? Este é um velho dito russo que Blavatsky gostava de citar. Poderá alguém se tornar mais sábio graças a conselhos? Um tolo é o que é. Uma massa de condiciona­mentos, de preconceitos, de idéias feitas a respeito das coisas. Respira, pensa, transpira, age, em função desse fundo que realmente é o seu senhor. A tolice é uma realidade. Vamos encontrá-la entronizada sob os mais diversos mantos da respeitabilidade. E nada é pior do que os pretensos sábios, falando de suas cátedras, invocando um poder que não possuem. A humanidade, como um todo, é tola. Um rebanho que vai sendo tocado pelos mais diversos pastores. Há entretanto os que se rebelam contra esse estado de coisas e agem como uma força natural para despertar os tolos. E pagam, sempre, por isso. Helena Petrovna Blavatsky é uma das mais extraordinárias personagens da nossa época. Mas que não é reconhecida, nem citada, pois quem faz a História são os pretensos sábios contra os quais ela tanto se bateu. A sua atuação no século XIX foi a de uma verdadeira guerrilheira do espírito. Do maquis, do anarquista que enviava bom­bas dentro de um buquê de rosas. Uma dessas, e que faz efeitos até agora, é o livro A Doutrina Secreta.




Uma vida fora de série Nascida, segundo a velha tradição russa, na noite das feiticeiras, na noite de 12 de agosto, na cidade de Ekatiroslav, no ano de 1831, teve a acompanhá-la, desde o nascimento, a presença do sobrenatural. Em seu batizado, acidentalmente a túnica do sacerdote foi incendiada, ferindo e assustando alguns que estavam presentes na cerimônia. Anos mais tarde, Helena brigou com um colega e ameaçou enviar-lhe um diabo que lhe faria cócegas até a morte. O garoto aterrorizado correu, escorregou e caiu num rio morrendo afogado. H. P. B. oferece uma sucessão de impres­sões. Esfinge. Oráculo. Magia. Todas essas insinuações eram reforçadas pelo seu cor­panzil, as suas manias bruscas, o modo es­palhafatoso de vestir e as manifestações pa­ranormais que a acompanhavam sempre. E, principalmente, por seus olhos esbugalhados, profundos e que atraem quem os contempla. A atração do abismo, ou da Luz. Após a morte de sua mãe, foi enviada para a companhia de seu avó, o governador de Saratov, que vivia num castelo que diziam ser encantado. Aos cinco anos era capaz de hipnotizar; e aos quinze utilizava-se da clarividência. Começaram, então, a falar dela. Uma série de circunstâncias levou a isso. Entrou no mundo quando grassava uma terrível epi­demia de cólera. A sua hipersensibilidade e o temperamento estranho atraíam sobre si a curiosidade popular. Como criança, adorava ficar só nos escuros subterrâneos do palácio de seu avô. Lá, iam encontrá-la muitas vezes, encondida numa masmorra, perdida em seus pensamentos. Irrequieta, sonhadora, adorava cavalgar, em pêlo, em fogosos cavalos pelas estepes. Recebeu uma educação tradicional. Sabia tocar piano com mestria, a ponto de, anos depois, em Lon­dres, ter realizado vários concertos. Che­gando ao Egito, depois de ter abandonado o seu velho marido, o general Niceford Blavatsky, com quem viveu três meses virtual­mente prisioneira, a sua vida é um torveli­nho. Devemos lembrar que, na época, os transportes eram demorados e precários. A falta de informações um fato. Acompanhar os itinerários das viagens de Blavatsky é uma aventura que poucos poderão executar na nossa época.Vamos encontrá-la nas mais recônditas re­giões. No Líbano, recebendo instruções dos druzos. Na índia, nas montanhas da fron­teira norte, tentando penetrar no Tibete. Nos Estados Unidos e Canadá, convivendo com os peles vermelhas, aprendendo as suas artes, ou com os feiticeiros vodus de Nova Orleans. Podemos deparar com ela sacole­jando nas caravanas, cruzando o continente americano em busca do Pacífico. Na Amé­rica Central e do Sul. Ou viajando de navio para o Japão em 1856. Ali entrou em con­tato com a mais esotérica das seitas: os iamabuchis, que moram nas montanhas próximas a Quioto. Em 1857 está no Kashi­mir, Ladak na fronteira do Tibete, na Birmânia e Java. Retorna à Europa. Viaja para o Cáucaso. Volta à Itália. Passa pelos Balcãs.Em 1867 é ferida na batalha de Mentana, no dia 2 de novembro, lutando ao lado de Garibaldi. Recupera-se em Florença. De 1868 a 1870 permanece no Tibete, num mosteiro da região de Chigtze, em compa­nhia de seu mestre. Afunda numa explosão do navio Eumonia, no Mediterrâneo, entre as ilhas de Doxos e Hidra. Recebe assistên­cia do governo grego que a remete, a pedido, para Alexandria. Depois é uma sucessão de locais: Cairo, Síria, Palestina, Rússia, Ro­mênia, 1874, nos Estados Unidos em Ver­mont.




Funda, em Nova York, a Sociedade Teosófica, em 1875. Escreve sem parar. Nasce Isis Sem Véu, em 1876. Em 1878 naturaliza-se norte-americana. Parte para a índia em companhia do seu grande colabo­rador coronel Henry Steel Olcott. Bom­baim — 1879, cruza a índia. Ceilão —1880, onde se torna budista. De 1881 a 1885 vive na índia uma vida de superati­vidade em todos os campos. Em 1888, já muito doente, escreve como uma desespe­rada A Doutrina Secreta. Era a sua obra-prima. Uma síntese do pensamento humano. Uma teoria unificada do espírito humano. Como conseqüência, sofre todos os ataques. É considerada uma charlatã, uma vigarista. A Sociedade de Pesquisas Psíquicas, de Londres, envia um médico, o dr. Hogson, para a índia, a fim de pesquisar os estra­nhos acontecimentos que ali se passavam. As conclusões apressadas e tendenciosas denunciam Blavatsky de forjar as cartas dos seus mestres, de utilizar gabinetes falsos para as suas materializações etc. O casal Coulomb, que se prestou a isso, tinha sido auxiliado por Blavatsky quando se encon­trava passando necessidades no Cairo. Inve­josos com a notoriedade de H. P. B. e instigados pelas missões religiosas e pelo Governo inglês, que via com maus olhos a crescente valorização da teosofia na Índia, armaram todo o esquema. O fato é revelado com detalhes, entre outros, anos depois, pelo livro de Jacques Lantier, publicado em 1970, intitulado La Theoso­phie ou 1′Invasion de Ia Spiritualité Orien­tale. Helena Petrovna Blavatsky, verdadeira mártir do século XIX, falece no dia 8 de maio de 1891, na cidade de Londres. As semen­tes da renovação do século 20 estavam lan­çadas.




O mundo em que viveu

 O final do século 19, onde transcorre a vida de Blavatsky, caracteriza-se pelo apareci­mento da ciência moderna. O materialismo era evidente nos mais diversos campos. Foi o período áureo da Inglaterra, da rainha Vitória, das missões religiosas cristãs para converter os infiéis. Do nascimento das es­tradas de ferro, e grandes fábricas inglesas, começando a poluir a paisagem. Do trabalho escravo das mulheres e crianças. Da ilumi­nação a gás. Do cancã e da valsa. Os espar­tilhos, os grandes decotes, as sobrecasacas e as barbas fartas. A moral era a vitoriana. Escolhiam-se as palavras para que não hou­vesse o perigo de falsas identificações com o corpo humano. Foi a grande era da de­pravação. Dos grandes interesses comerciais. O deus todo-poderoso era o dinheiro. Em seu nome procurava-se modificar os hábitos e tradições dos povos submetidos ao colo­nialismo. Tudo aquilo que era a favor da manutenção de um estado de dependência, de conformismo, era apoiado. Tudo que podia fazer despertar a consciência dos va­lores culturais próprios dos países domina­dos, era perseguido.




Convém lembrar — para ficar bem carac­terizado o clima em que Blavatsky viveu —que as guerras do ópio, nas quais a Ingla­terra tentava manter a sua supremacia na China, graças ao enfraquecimento da moral de um povo, tinham ocorrido há pouco tempo. É esse um dos inúmeros episódios trágicos que caracterizam a negra história dos chamados povos civilizados. K. M. Panikar na obra clássica A Dominação Oci­dental na Ásia descreve toda a brutalidade da perseguição aos “heréticos” na Índia. Muito antes da Inquisição (1560), já os tribunais eclesiásticos condenavam os heré­ticos para roubá-los de suas propriedades. A ponto de Camões se revoltar, dizendo: “Vós que o título de mensageiros de Deus usurpais acreditais deste modo imitar São Tomás?” Uma prova da total iniqüidade e, ao mesmo tempo, do pouco valor das tradições oci­dentais em povos que possuíam a essência da sabedoria em suas veias, está no fracasso total da evangelização em massa feita nos últimos quatrocentos anos. Blavatsky de­nuncia esse fato em vários trechos da sua obra. É a grande revolta contra a supressão do sublime direito de cada um ser ele mes­mo. Ela se opunha, “com a forma mais forte possível, a tudo que se aproximasse da fé dogmática e do fanatismo”. Logicamente teve contra si a resistência dos doutores da ciência. Em qualquer dos ramos da ciência exata, foi levada a sério. Escarnecer e rejeitar a priori — tal era a atitude que prevaleceu no século XIX. H. P. B. dizia: “Somente neste, porque no século 20, os eruditos principiarão a reconhecer que a Doutrina Secreta não foi nem inven­tada nem exagerada, mas, pelo contrário, simplesmente delineada; e, por fim, que os seus ensinamentos são anteriores aos Vedas. Não vai nisso pretendermos o dom da pro­fecia: é uma simples e despresumida afir­mação, baseada no conhecimento de fatos. De cem em cem anos surge uma tentativa de mostrar ao mundo que o ocultismo não é uma vã superstição. Uma vez que se possa, de algum modo, entreabrir a porta, ela ir ­se-á abrindo cada vez mais em séculos su­cessivos”.




Graças ao estudo aprofundado dos textos das mais diferentes épocas e tradições, po­demos encontrar aquilo que nos une por trás da aparência das formas. Aquela filoso­fia perene de que nos falava Leibnitz que, uma vez revelada, joga uma luz mais plena nas nossas religiões, dando-lhes uma perspectiva cósmica. Um ponto de encontro que, em vez de isolá-las, as fortalece. Blavatsky anotava em Doutrina Secreta: “É possível que as mentes da atual geração não estejam maduras para a recepção de ver­dades ocultas … Chegou a hora de verifi­carmos se as paredes da moderna Jericó são tão inexpugnáveis que nenhum ocultista tocador de trompa possa fazê-las ruir”. O ocultista não admite que nada, desde o grão de pó mais minúsculo até uma super­galáxia, seja inorgânico, sem vida. O átomo é a própria vida. Toda essa hierarquia de poderes — que vai desde o contido no todo até o mais relativo — está dirigida por cons­ciências. Essas consciências são para o ho­mem de ciência apenas leis. Há entretanto entre elas uma coordenação. A ciência oculta estabelece que da vida una, primor­dial, informe e incriada, procede o universo. Primeiro do caos primordial, profundo, frio, homogêneo, nasce a luz, o fogo. Dele, tudo procede em escalas decrescentes de mate­rialização. Seguem-se, nessa descida do sutil ao denso, os estágios do ar, água, terra. Evidentemente, o éter, fogo, ar, água e terra não são os elementos a que normalmente nos referimos quando usamos essas palavras. Sakti é o poder latente no uno sem segundo. Contido no coração do um, Sakti é o desejo que leva à limitação, à multiplicação. É o poder feminino por excelência. Um aforismo cabalista diz: “uma pedra torna-se uma planta, um animal, um homem e um espí­rito. O espírito torna-se Deus”. É o ciclo fechado que procede da centelha primordial, do filho pródigo que busca a casa do pai por caminhos distintos, sem ter, entretanto, nunca se afastado dela. Como dizia Hermes Trimegistos no Egito: “Nada na terra é real. Há somente aparências. O homem é transitório e, portanto, não é real, pois é sujeito à vida e à morte. Só a realidade primordial o é. Aquilo que não tem cor nem forma, que não muda. A maté­ria é, portanto, uma sombra do espírito. Apesar de tudo, há o relativo, o contingen­te, o ilusório. O imutável se transforma no transitório pela força do poder (Sakti). Essa força fundamental, que é a causa da manifestação, se apresenta sob sete aspec­tos: 1) Parasakti — o poder supremo. 2) O Jnana Sakti — o poder do intelecto, a sabedoria real. 3) Itchasakti — o poder da vontade. 4) Kriyasakti — o poder do pen­samento. 5) Kundalinisakti — o princípio .da vida universal, que inclui em si a atração e a repulsão. 6) Mantrika Sakti — o poder do som, da música, da palavra. Há um sé­timo aspecto, a Sakti suprema, que engloba todos os seis.




Vemos que do um nasce o dois. Para que o um se divida é necessária a presença no seu seio de um desejo, de uma força, de Sakti como causa dessa divisão. Temos aí a presença do três, constituída pelos dois aspectos (positivo-negativo, macho-fêmea) e a relação existente entre eles, constituindo o 3.° termo. Os três, combinados dois a dois, produzem o seis, (os triângulos entrelaçados simbolizando o espírito impregnado na matéria). O círculo — a esfera. A pes­quisa desses Saktis leva o homem a dimen­sões maiores do poder. Esses poderes estão em nós como em todas as coisas. Podem ser revelados, intensificados, graças a práti­cas determinadas. A ioga, a velha ciência da auto-realização, é um dos inúmeros ca­minhos que a ciência antiga, revelada por H. P. B., oferece aos homens. Em seu sentido exato a ioga é profunda­mente associada à alquimia. Ela é a arte alquímica, por excelência, que permite pre­parar o vaso (o corpo), onde será feita a transmutação da matéria bruta (o chumbo) em ouro. Nesse vaso nascerá Kumara, a criança eterna, que nunca envelhece. Esses poderes são analisados, com detalhes, ao longo da Doutrina Secreta. Aqui e ali encontramos chaves, relances, que nos darão uma compreensão maior da vida e seus mis­térios. São abismos abertos diante do pes­quisador sério, daquele que sabe ler além das palavras e ver a essência do real. O cuidado da autora em deixar as coisas aparentemente fora do lugar é afastar do acesso à fonte do poder os que, não estan­do preparados, pudessem dela fazer mau uso. É essa a razão por que os textos antigos, que tratam desse assunto, vêm revestidos pelo manto espesso do simbolismo, defor­mando a sua compreensão superficial.


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