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quinta-feira, 8 de março de 2012

Grupo cria blog para debater participação feminina na política


A internet é hoje o espaço onde as pessoas discutem, entre outras coisas, temas políticos. Os debates ocorrem principalmente nas redes sociais, as quais também são importantes ferramentas de mobilização social. As mulheres também estão mobilizadas nesse campo. Após a conquista do voto, elas lutam para aumentar a visibilidade na política.
O Coletivo das Blogueiras Feministas tem como um dos principais objetivos estimular as mulheres a participar ativamente da política no país. A rede, que surgiu em 2010, conta atualmente com cerca de 60 integrantes.
A coordenadora do coletivo, Bia Cardoso, debateu as perguntas enviadas pela Agência Brasil com as integrantes do grupo e as respostas foram elaboradas coletivamente. Confira a entrevista na íntegra:
Agência Brasil: Este ano, a conquista do direito ao voto feminino completa 80 anos. Em 2010, as mulheres representaram 51,8% do eleitorado. Diante disso, vocês acreditam que são as mulheres que decidem o futuro político do país?

Coletivo de Blogueiras Feministas (CBFem): Acreditamos que o voto feminino ganhou prestígio nos últimos tempos. Porém, elas ainda não decidem o futuro político do país porque a representação feminina na política ainda é muito baixa. Dentro dos limites da democracia representativa, é equivocado acreditar que por ser maioria do eleitorado as mulheres decidam o futuro do país.
ABr: Você acredita que os casos de corrupção e problemas envolvendo partidos fazem com que as mulheres se desiludam com a política?
CBFem: Há uma despolitização forte na sociedade brasileira. A mídia, por exemplo, não encoraja as pessoas a participar da política, mas sim a se afastar dela. Portanto, enquanto apenas forem noticiados casos de corrupção e problemas, é claro que poucas pessoas vão querer se engajar politicamente e até mesmo se candidatar. Dessa maneira, muitos cargos continuam nas mãos de oligarquias de políticos. É preciso mostrar qual a função da política para a democracia e como uma maior participação das mulheres pode contribuir para mudanças.

ABr: Embora o Brasil tenha uma presidenta e várias ministras, a representatividade política da mulher ainda é baixa. A Lei 9.504 determina a cota de 30% da candidatura de mulheres nos partidos. No entanto, em muitos partidos essa cota não chega a ser preenchida. Ao que vocês atribuem isso?
CBFem: Geralmente não há esforço das legendas para a formação político-partidária de novos membros. Além disso, a carreira política exige muita dedicação. Enquanto a mulher não se livrar da tripla jornada e passar a dividir tarefas igualitariamente com os outros membros da família, dificilmente muitas conseguirão tempo e disposição para se dedicar a política. Há outras barreiras além do acesso às candidaturas, como o acesso a recursos para a campanha e a cultura política, que dificulta a renovação dos quadros. Alguns desses obstáculos podem ser enfrentados com a reforma política. Dois pontos, em especial, podem favorecer a representação feminina (e de outros grupos subrepresentados): o financiamento público para campanhas e o voto em lista fechada pré-ordenada.
ABr: Como as redes sociais podem incentivar as mulheres a participar da política nacional ou, pelo menos, debatê-la?
CBFem: Um dos objetivos do Coletivo das Blogueiras Feministas é justamente estimular as mulheres a participar ativamente da política, que também está no cotidiano. Escrevemos textos e publicamos com o objetivo de servir de fonte de debate e discussão, além de um espaço de acolhimento para que as pessoas explicitem suas dúvidas.
ABr: Como surgiu a ideia do coletivo? Quantas mulheres fazem parte da rede de blogueiras feministas?
CBFem: Durante o primeiro turno nas eleições de 2010, Maria Frô enviou um e-mail para várias colegas feministas com o objetivo de colher opiniões sobre aspectos relacionados à mulher. As conversas por e-mail foram tão produtivas que Cynthia Semiramis decidiu criar um grupo de discussão, em que feministas poderiam trocar informações e debater assuntos diversos. O grupo cresceu e surgiu a necessidade de se criar um blog, para espalhar nossas ideias e mostrar o quanto o feminismo é um movimento plural.
ABr: Como vocês percebem a política brasileira atual?
CBFem: Percebemos que o governo da presidenta Dilma [Rousseff] não é um governo que apoia as minorias. Ela tem dado continuidade a políticas públicas que apoiamos, como o bolsa-família. Os números da pobreza no país vêm caindo, e as mulheres são muito beneficiadas. As taxas de desemprego entre as mulheres têm caído. Porém, tivemos retrocessos em relação às políticas de saúde voltadas para a mulher, o foco agora está mais na saúde materna do que na saúde integral da mulher. Há diversas decisões arbitrárias sobre as políticas LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, transexuais] com o veto ao kit anti-homofobia nas escolas e a campanha de uso da camisinha. Não basta ouvir as intenções do governo. Precisamos ter políticas públicas e instrumentos para avaliar a efetivação delas, além de ações concretas do governo no enfrentamento das desigualdades sociais e do preconceito.
AGÊNCIA BRASIL

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