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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tenente Alberto Mendes Junior

Massacre do tenente Alberto Mendes Júnior - (10/05/1970)

O objetivo de toda organização terrorista era levar a guerrilha para a área rural e depois, já com o “Exército de Libertação Popular” formado e treinado, atacar e conquistar as cidades. A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) planejava criar focos guerrilheiros em determinadas áreas táticas. Porém, antes disso era necessário doutrinar, instruir, orientar e preparar militantes para ocupar tais áreas. A organização passou a procurar áreas que facilitassem a segurança das instalações a serem construídas e as já existentes, e que permitissem instruir adequadamente o seu pessoal.


Texto completo


Em meados de 1969, a VPR adquiriu o Sítio Palmital, com 40 alqueires, na altura do Km 254 da BR-116, São Paulo-Curitiba. Esse terreno foi comprado dos sócios Manoel de Lima (ex-prefeito de Jacupiranga) e Flozino Pinheiro de Souza, simpatizantes dessa organização terrorista. Quem assinou a escritura foi Celso Lungaretti, usando o nome falso de “Lauro Pessoa”.
Em 15/11/69, Lamarca foi levado por Joaquim dos Santos e José Raimundo Costa para o Sítio Palmital. Lamarca seria o comandante dessa área de treinamento, que ele denominou Núcleo Carlos Marighella. Quando chegou ao sítio, já o esperavam Celso Lungaretti, Yoshitame Fujimore, Massafumi Yoshinaga e JoséLavechia. Reunidos, concluíram que o Sítio Palmital era pequeno e vulnerável por estar localizado nas proximidades da BR-116.

Compraram outro sítio, o dobro do primeiro, com 80 alqueires, um pouco mais ao norte e a 4 km da BR-116, pertencente ao mesmo Manoel de Lima.

Antes do Natal de 1969, a área já estava pronta, inclusive com o material bélico a ser utilizado nas aulas: 4 FAL, 6 fuzis 1908, espingardas calibre 12, 8 Winchester, 18 revólveres .38 e pistolas .45.

Em 07/01/70 chegaram os alunos, e Lamarca escolheu duas bases onde foram alojados:

- Base Carlos Roberto Zanirato: - Darcy Rodrigues (comandante); Gilberto Faria Lima; José Lavechia; Mário Bejar Revollo (boliviano); Valneri Neves Antunes; Delci Fensterseifer; Antenor Machado dos Santos; Herbert Eustáquio de Carvalho; Iara Iavelberg (companheira de Carlos Lamarca).

- Base Eremias Delizoikov: - Yoshitame Fujimore (comandante); Diógenes Sobrosa de Souza; Ariston de Oliveira Lucena; José Araújo Nóbrega; Edmauro Gopfert; Ubiratan de Souza; Roberto Menkes; Carmem Monteiro dos Santos Jacomini (companheira de Roberto Menkes).

Em 16/04/70, Celso Lungaretti, que havia adquirido a área de treinamento em nome da VPR, foi preso no Rio de Janeiro e, nesse mesmo dia, “entregou” a existência dos dois sítios.

No dia seguinte, 17/04/70, o Centro de Informações do Exército (CIE) transmitiu ao Comando do II Exército (São Paulo) a existência da área de treinamento. Nesse mesmo dia, equipes do 2º Batalhão de Polícia do Exército (2º BPE) foram enviadas para a área e prenderam, em Jacupiranga, Flozino Pinheiro de Souza, um dos donos do sítio.

Como o Vale da Ribeira estava na área de responsabilidade do então II Exército (São Paulo), coube a ele a condução das operações para neutralizar a região de treinamento.

Dos 17 militantes que estavam inicialmente na área, oito conseguiram sair no dia 20 de abril. No dia 27 de abril foram presos Darcy Rodrigues e José Lavechia. Agora, eram sete os fugitivos.

Dentre os vários acontecimentos que ocorreram durante as operações, é importante ressaltar o seguinte:

No dia 8 de maio, aproximadamente às 10h30, os sete foram até uma venda e, identificando-se como caçadores, alugaram um veículo F-350, para que seu proprietário os levasse até a localidade de Eldorado. Porém, enquanto eles almoçavam, o proprietário do veiculo enviou dois moradores, a cavalo, para avisar ao Exército que sete homens, que passariam numa caminhonete F-350, eram os terroristas procurados. Como os mensageiros não encontraram nenhuma tropa no caminho, foram ao Destacamento Policial de Eldorado e avisaram aos policiais.

O sargento comandante do Destacamento determinou que os seus seis soldados, armados com revólver .38, estabelecessem uma barreira e, após instruir os soldados, foi a Jacupiranga avisar ao Exército.

Às 19 horas, o grupo dos sete, todos com armas pesadas, ao verem a barreira em Eldorado reagiram. Alguns PMs foram feridos e os restantes se ocultaram no mato. A gangue de Lamarca, refeita do susto, prosseguiu, na F-350, rumo à Sete Barras.

Às 19h30, o posto do Exército em Jacupiranga tomou ciência do tiroteio ocorrido em Eldorado e mandou em direção aos terroristas um pelotão do 6º RI. Enquanto isso ocorria, 20 homens da PMESP, chefiados pelo tenente Alberto Mendes Júnior, seguiram de Registro para Sete Barras. Ao saber do choque em Eldorado, o tenente Mendes seguiu para essa localidade, com uma C-14 e um caminhão com o toldo abaixado.

Logo após ultrapassar o Rio Etá, às 21 horas do dia 8 de maio, sofreram uma emboscada, preparada pelo pessoal do Lamarca. O tiroteio foi violento. O grupo dos sete levava a vantagem da surpresa, além de estar bem abrigado no acostamento e da superioridade do seu armamento, os modernos FAL.

Os 20 policiais militares do tenente Mendes, ao contrário, levavam a desvantagem de terem sido atacados de inopino, em pleno deslocamento nas viaturas, além da inferioridade de suas armas, ou seja, os revólveres .38 e os velhos fuzis modelo 1908.

Em plena escuridão, ouviram-se os gemidos de dor dos policiais feridos. O tiroteio continuava. A desvantagem era gritante e um morticínio estava para ocorrer. Nessa ocasião, o tenente Mendes ouviu um terrorista gritar para que ele se rendesse. Para salvar a vida de seus subordinados, que naquele local ermo se esvaíam em sangue, alguns em estado grave, o tenente aceitou a proposta de Lamarca. Deixaria sob a mira dos terroristas os soldados que não haviam sido atingidos, enquanto ele seguiria com seus feridos até Sete Barras, para receberem assistência médica e depois voltaria.

Feito o acordo, o tenente partiu e deixou os seus feridos em Sete Barras. Voltou sozinho para tentar libertar seus soldados. Lamarca tinha a opção de fuzilar o tenente e os demais prisioneiros, para prosseguir com sua fuga. Opção perigosa, pois os tiros poderiam ser ouvidos e o grupo localizado. Nessa situação, prisioneiros só o atrapalhariam.

O tenente propôs a Lamarca que libertasse seus subordinados. No lugar deles, apresentava-se como refém.

Lamarca , sem outra opção, concordou e os soldados foram libertados. O tenente foi obrigado a seguir com eles na direção de Sete Barras. Embarcaram na F-350 que atolou ao passar sobre o Rio Etá. Abandonaram a viatura e partiram a pé, em duas colunas, uma de cada lado da estrada. Já era quase meia-noite quando, na entrada de Sete Barras, ouviram vozes. Era uma barreira montada pelo Exército. Abandonaram a estrada e se embrenharam na mata. Isso nem bem tinha acontecido quando surgiu um veículo civil, no sentido de Eldorado-Sete Barras, que se chocou com a barreira. Iniciou-se outro tiroteio que acabou com quatro feridos. Era o pelotão do 6º RI que havia sido mandado de Jacupiranga à procura dos fugitivos. Foi o típico “fogo amigo”,que a escuridão ajudou a acontecer.

Tribunal Revolucionário executa o tenente Mendes

Nesse contexto, Edmauro e Nóbrega se perderam e se afastaram definitivamente do grupo de Lamarca. Edmauro foi preso no dia 10 de maio e Nóbrega no dia 11. Naquele momento, o grupo passara a ser o grupo dos cinco. Lamarca ficou indignado com o tenente Mendes, porque este não o avisou da barreira na entrada de Sete Barras, culpando-o pelo desaparecimento de Edmauro e de Nóbrega. Continuaram a andar pela mata. O tenente os atrasava na marcha, pois tinha de ser constantemente vigiado. Além disso, era mais um para comer. Depois do entrevero em Sete Barras, já haviam andado um dia e meio. No início da tarde do dia 10 de maio de 1970, pararam para descanso. Ariston e Gilberto ficaram tomando conta do prisioneiro. Lamarca, Fujimore e Sobrosa afastaram-se e formaram o “Tribunal Revolucionário”. Decidiram que o tenente seria “justiçado”.

Dada a sentença, os três retornaram. Acercando-se por trás do oficial,Yoshitame Fujimore desfechou-lhe violentos golpes na cabeça, com a coronha do seu fuzil. Caído e com a base do crânio partida, esse bravo oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo gemia e contorcia-se em dores. Foi quando Diógenes Sobrosa de Souza desferiu-lhe outros golpes na cabeça, esfacelando-a.

Ali mesmo, numa pequena vala e com seus coturnos ao lado da cabeça esmagada, o tenente Mendes foi enterrado em cova muito rasa. Seu corpo só seria localizado 4 meses depois.

Assim, de forma vil e covarde, terroristas fanáticos acabaram com uma vida. Essa foi a única morte ocorrida nas operações de combate à VPR, no Vale da Ribeira. Após assassinar o tenente, o grupo dos cinco continuou cercado e sem condições de sair da área. No dia 30 de maio, Gilberto Faria Lima, após tomar banho num rio, barbeou-se e cortou o cabelo, conseguindo, sozinho, sair da área. Os outros fugiriam depois.

Corpo do tenente Mendes localizado e sepultado em São Paulo

Em 19/08/1970, Ariston de Oliveira Lucena foi preso em São Paulo pela OBAN. Interrogado, indicou o lugar onde estava enterrado o tenente. No dia 08/09/70 foi providenciada a sua ida até o local. Lucena tremia e chorava; tinha medo de ser “justiçado” pelos companheiros do tenente. Tremia e chorava porque conhecia as práticas de seus companheiros de organização terrorista - em casos como esse: “justiçamento”.

O corpo do tenente Mendes foi exumado, sendo sepultado no dia 11/09/70.

A respeito do ato fúnebre transcrevo o que publicou o Jornal do Brasil de 12/09/70:

“Mais de mil pessoas acompanharam ontem à tarde, até o Cemitério do Araçá o corpo do tenente da Polícia Militar Alberto Mendes Júnior, assassinado pelo grupo do ex-capitão Carlos Lamarca, no Vale da Ribeira, em maio, e cujo cadáver foi encontrado no início desta semana. O governador Abreu Sodré, que velou o corpo no salão nobre do Quartel General da Corporação, deu o nome de Capitão Alberto Mendes Júnior ao Grupo Escolar de Vila Galvão, em Guarulhos.

Envolto na bandeira nacional, o esquife levando o corpo do oficial foi posto, às 14h, numa carreta do Corpo de Bombeiros, que saiu da Avenida Tiradentes para o Cemitério do Araçá. À frente do cortejo iam batedores e a banda de música do Batalhão Tobias de Aguiar.

O carro fúnebre foi acompanhado por milhares de oficiais e praças da PM, representantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, ex-Guarda Civil e Polícia Rodoviária, além de centenas de civis, tendo à frente o comandante geral da PM, coronel Confúcio Danton de Paula Avelino, o secretário de Segurança Pública, coronel Darci da Cunha Melo e o general Paulo Carneiro Tomaz Alves.

O cortejo atravessou o centro da cidade, onde o trânsito foi interrompido e as lojas fecharam suas portas. O esquife foi levado pelas altas patentes até a sepultura nº 38. Lido o boletim oficial o esquife baixou à sepultura, com honras militares.”

“Ao assinar o ato que deu o nome de Capitão Alberto Mendes Júnior ao Grupo Escolar de Vila Galvão, onde estudou o oficial morto, o governador Abreu Sodré destacou: ‘a humana compreensão do valor de vida, expressa pelo 2º tenente de polícia militar Alberto Mendes Júnior, que se entregou como refém aos terroristas-guerrilheiros, para salvar a vida de seus comandados; seu acendrado patriotismo, ao morrer em defesa da democracia e das liberdades constitucionais, nas mãos cruéis de seus algozes que lhe mutilaram o corpo, em assassinato frio e desumano; sua vida dedicada à corporação, aos seus subordinados, à disciplina militar e à hierarquia funcional, representa exemplo histórico para a juventude e, sobretudo, aos jovens estudantes de nossas escolas.”

Em setembro de 1970, a VPR tentou justificar o assassinato do tenente Mendes em um comunicado intitulado “ao povo brasileiro”, do qual foi extraído o seguinte trecho:

“... A sentença de morte de um tribunal revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo, dentro do cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O ten Mendes foi condenado a morrer a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado.”

O tenente Alberto Mendes Júnior nasceu em 24/01/1947, em São Paulo/SP. Filho de Alberto Mendes e Angelina Plácido Mendes, cedo manifestou o desejo de ingressar na PMESP, o que conseguiu após concluir o segundo grau.

Ingressou no Curso Preparatório de Formação de Oficiais em 15/02/1965. Foi declarado aspirante a oficial em 21/04/1969. Em 2 de junho desse ano, foi classificado no 15ºBP. Em 15 de novembro foi promovido, por merecimento, ao posto de 2º tenente. Em 06/02/1970, apresentou-se no Batalhão Tobias Aguiar, onde rapidamente se entrosou com seus novos companheiros.

Carinhosamente era chamado de “Português” pelos seus colegas. Era alegre, sempre sorridente e muito competente.

Em fins de abril o seu batalhão foi designado para prestar apoio à Companhia Independente, com sede em Registro. Para lá o tenente Mendes seguiu no comando de um pelotão, juntamente com outro pelotão do mesmo batalhão, ambos sob o comando do capitão Carlos de Carvalho. Após uma semana naquela cidade, o capitão recebeu ordens para retornar com um dos pelotões para São Paulo.

A respeito dos cinco assassinos do tenente Mendes:

- O ex-capitão Carlos Lamarca morreu em 17/09/71, no interior da Bahia, em combate com o DOI/CODI/6º RM.

- Yoshitame Fujimore morreu em 05/12/70, em São Paulo, em combate com o DOI/CODI/II Ex.

- Diógenes Sobrosa de Souza foi preso em Porto Alegre em 12/12/70. Julgado, foi condenado à morte. Depois teve sua sentença comutada para prisão perpétua e, finalmente, reduzida para 30 anos de prisão. Com a Lei da Anistia foi colocado em liberdade. Suicidou -se em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo, no dia 17/11/1999. Segundo sua certidão de óbito, “a morte deu-se por asfixia por enforcamento (suicídio)”.

- Ariston de Oliveira Lucena, condenado à pena máxima, foi solto com a Lei da Anistia.

- Gilberto Faria Lima fugiu para o exterior e seu paradeiro é desconhecido.

A morte do tenente Alberto Mendes Júnior não foi em vão. Ela revelou, por um lado, o desprendimento de um homem e a perfeita noção do cumprimento do dever, que o levou à morte para salvar seus subordinados. Por outro, o ódio, o fanatismo e a crueldade de seus algozes.

A sublimação da tragédia desse herói trouxe aos verdadeiros combatentes da liberdade o suporte moral para seguir lutando com denodo e crença nos valores democráticos.

Fonte: Retirado do livro "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça "- Carlos Alberto Brilhante Ustra

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